A despeito da corrupção, por Joílson Cardoso
“De tanto ver triunfar as nulidades o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra e ter vergonha de ser honesto”. Esta frase de Rui Barbosa, enseja uma reflexão sobre a realidade brasileira e as relações envolvendo o estado e toda a sociedade. O combate a corrupção sempre foi e deve ser uma luta permanente.
Nada justifica o que ocorreu neste último período na Petrobrás, nos partidos, no parlamento, no empresariado, no judiciário, revelada pela operação Lava-Jato. Não nos enganemos, a corrupção sempre existiu e também em outros períodos, a diferença deste é que as denúncias e as investigações estão caminhando juntas e podem significar evolução.
Temos que combater a corrupção que é sistêmica no estado brasileiro, em parte, na política eleitoral formadora de verdadeiros cartéis criminosos para eleger gente sem nenhum compromisso com a ética e o País. Porém, não foi um dado partido quem inventou a corrupção no Brasil, nem tão pouco exista um que seja o arauto da honestidade, como querem imputar alguns setores da política brasileira e a mídia conservadora, como já disse, ela é sistêmica e sempre existiu.
Se denúncias estão sendo apuradas e os investigados e condenados estão indo para a cadeia, méritos para a democracia e a consolidação das instituições (muitas com velhos vícios, é verdade, como a seletividade que pune alguns e exclui outros).
Não é por milagre que um vereador fica rico com proventos em torno de 5, 6, 7, 8 mil reais por mês, nem mesmo o deputado e prefeito com razoáveis salários para o exercício de suas funções delegadas pelas urnas, é corrupção mesmo.
Então, porque a política eleitoral atraí cada vez mais gente deste tipo? Também porque os partidos não impedem a entrada em seus quadros de pessoas sem a menor vocação para a vida pública e que estão apenas para fazer negócios sujos?
Quanto custa para o estado e o que rende para a corrupção a capa asfáltica que deveria ser de 10 cm e só se coloca 5 cm, e as empresas terceirizadas sonegadoras que existem nos estados e prefeituras Brasil à fora? Dez, 30, 50% do que deveria ser entregue à população? E a merenda escolar? A tarifa do ônibus? Qual o interesse dos empresários e grupos econômicos em financiar os políticos? E a especulação imobiliária (residencial e comercial)? Etc, etc…
Como constituir um projeto nacional para o povo, se o que fazem é apenas cuidar dos seus negócios, utilizando-se da política para aprisionar o estado em todos os campos, executivo, legislativo e o Judiciário (este último o mais fechado à população, sem controle social algum, onde a corrupção, não nos enganemos, também é sistêmica)?
Calcula-se que a corrupção consome em torno de 5% do PIB na Europa. Já no Brasil fica em torno dos 3% PIB. Nada temos à comemorar, pois é a corrupção que atrasa qualquer sonho de nação, em qualquer sistema político.
Estive na República Popular da China, em 2011, numa comitiva dos partidos de esquerda representando o PSB, com a Ministra Ana Arraes, o Governador Rodrigo Rolemberg e uma deputada do PSB, juntos estavam também delegações do PT, PCdoB e PDT.
No primeiro dia da visita tivemos a notícia da execução de 2 prefeitos à pena capital (tiro na nuca) condenados por corrupção, também havia sido preso um alto funcionário do governo Chinês pelo mesmo motivo.
Entre os quatro pontos principais para o avanço da China, ditos pelo representante do governo chinês, o combate à corrupção estava entre eles.
“A corrupção é o creme do capitalismo. Não se desesperem, isso é sinal de que o capitalismo está se expandindo”. É isso: tudo é corrupto no capitalismo, dizia Ignácio Rangel (1914-1994).
Qual é a proposta da direita brasileira, capitalista, para o combate à corrupção na Petrobrás? É entregar o pré-sal ao capital internacional com a mudança do regime de partilha para concessão, em detrimento dos recursos para a educação, saúde e o desenvolvimento. Entregar a riqueza do País, junto com a nossa soberania à sanha de grupos internacionais poderosos. Assim, temos que nos indignar diante da corrupção, que é como baratas, existem nos lugares mais próximos, e não podemos aceitar que a política torne-se prisioneira, a corrupção virar prática comum e aceita por todos.
Que ninguém, nenhum grupo político, chame para si, o combate à corrupção como patrimônio seu, exclusivo, pois a luta contra a corrupção deve ser uma cultura, uma ação permanente, um estágio elevado da sociedade que se faz democrática e ética. A corrupção e baratas estão em todos os lugares, o que não podemos aceitar é que fiquem à passear sobre a mesa das decisões da República. Quanto mais combatemos a corrupção, maior é o estágio civilizatório que alcançamos.
Que vão todas para o esgoto!
Joílson Cardoso – Primeiro Secretário do PSB/RJ, Vice-presidente da CTB, Secretário Nacional da SSB – Sindicalismo Socialista Brasileiro e Professor.
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